9.15.2010

Dance of Days - Disco Preto (2010)

O Dance of Days lança mais uma vez um dos melhores discos do ano. O tão aguardado "Disco Preto". Fato que acontece com todos os lançamentos do grupo desde 2001, quando lançaram o primeiro registro full-lenght do grupo, "A História não tem Fim". Mas desta vez a banda vem com uma sonoridade mais agressiva e punk do que em qualquer outro disco, o que irá surpreender quem esperava músicas mais voltadas para o rock tradicional e com uma produção mais limpa, como nos dois últimos discos, "A Dança das Estações", de 2009 e "Insônia 2008".
O disco abre com "Colheita Maldita", uma música punk, agressiva, rápida e direta, bem chute na porta, mostrando para o ouvinte qual será o tom do disco até o final. Logo em seguida vem "Esta é a Hora de uma Nova Partida", música disponibilizada na internet algumas semanas antes do lançamento oficial do disco. Uma das melhores do álbum, com uma levada bem característica das bandas nacionais de hardcore dos anos 90 e uma introdução de baixo muito boa. É a música que mais representa a idéia de uma retomada, de um recomeço, de resgate de uma cena punk/hardcore da forma que ela era até bem pouco tempo atrás.
A terceira faixa do cd é "Estorvo", com uma levada mais voltada para o hardcore americano da década de 80, lembrando muito Dag Nasty. Aqui há questionamentos como: “O que o punk virou?” e “O que eu me tornei?”, que caracterizam a reflexão sobre a renovação de valores e propósitos, temática presente em grande parte do disco. Uma das melhores também.
A faixa seguinte é "Mova", que mantêm a sonoridade punk/HC, mas com uma sonoridade mais suja e agressiva que as anteriores, lembrando a fase em que Nenê Altro, Marcelo Tyello e Marcelo Verardi, tocavam no Sick Terror. Na seqüência, outra música que pode ser classificada como uma das melhores do disco, "Falo Sério Não Nasci para o Tédio", uma faixa mais tranqüila e cadenciada, após uma sequência de músicas punk/HC.
"E Livrasse A Todos Que, Pelo Pavor Da Morte, Estavam Sujeitos A Escravidão Por Toda Vida", é a sexta faixa do disco e retoma a sonoridade mais agressiva. Aqui o ateísmo e as críticas as religiões ficam explícitas, mais do que em qualquer outra música do Dance of Days em que o tema é abordado.
A sétima faixa é Corona Australis, que já havia sido lançada na internet em 2009 e que foi regravada neste "Disco Preto". Aqui a música está mais forte, com uma versão mais pesada que a original, com as guitarras mais altas que o vocal, característica presente em todo o disco. Na sequência vem "Discórdia (Carro Bomba II)", que possui uma temática relacionada com a da música "Carro Bomba", do disco "A História Não tem Fim". Esta referência pode ser observada, principalmente, no primeiro refrão, em que Nenê grita “Mas minha vontade é te acertar, mandar toda essa porra pro ar”. Discórdia é tão doentia quanto "Carro Bomba".
"Garotos Perdidos e Ferris" e o "Queimador de Livros" são as duas próximas faixas e são as que contêm referências cinematográficas. A primeira faz referência ao filme "Lost Boys", enquanto a segunda é uma referência a "Ferris Bueller's Day Off", conhecido aqui no Brasil como "Curtindo a Vida Adoidado", todos dois ficaram bastante populares sendo exibidos na Sessão da Tarde na década de 90. Duas boas faixas, sendo que "Ferris e o Queimador" têm uma levada que lembra muito o já extinto grupo Noção de Nada.
Na sequência vêm as três músicas que encerram em grande estilo, e de forma mais tranqüila, um disco que começou mais agressivo. A primeira delas é "Um Sonâmbulo em seu Aquário", uma das faixas mais pessoais de Nenê Altro no disco. Traz uma sonoridade mais alternativa e o refrão mais contagiante do disco: “O meu sorriso não me traz / o que preciso para estar assim, bem comigo / Não me faz acreditar / que não há risco em ficar.” A penúltima música do disco é "Minha Lista das Pessoas que se Cansaram de Mim", que possui uma das letras mais melancólicas do disco. As duas também estão entre as melhores do "Disco Preto".
O Dance of Days tem como grande mérito, escrever boas faixas de encerramento de discos. E neste não é diferente. Comparando com as outras, "Repetindo Frases e Rimas" se aproxima bastante de "A Vitória (ou Coisa que o Valha)", devido ao clima mais para cima da música e da letra. Ela possui um fim perfeito para a música e para o disco, com os seguintes versos: “E se pensar em mim / é só tocar seus discos / e me dar uma ligada.”
O "Disco Preto" do Dance of Days traz uma sonoridade mais agressiva e punk, com letras mais simples e diretas. É uma grande referência para uma nova partida, uma retomada e renovação de valores. Um dos melhores discos do ano.

As cinco melhores do disco:

1 – Minha Lista das Pessoas que se Cansaram de Mim
2 – Falo Sério, Não Nasci para o Tédio
3 – Um Sonâmbulo em seu Aquário
4 – Estorvo
5 – Esta é a Hora de uma Nova Partida

Faixa a Faixa - Nenê Altro (Dance of Days)
publicado originalmente em: nenealtro.wordpress.com

COLHEITA MALDITA. Desde o princípio quis que esse disco fosse um dos mais agressivos de toda história da banda. Essa foi uma das primeiras músicas que fizemos nesse novo trabalho. A letra é clara, direta, como toda canção punk deve ser. E tentei falar sobre essa ligação que nós temos com o público, com as “crianças do campo”. Porque faz tempo que a gente deixou de ser só banda e passou a ser a voz de muitos de nossos fãs.
ESTA É A HORA DE UMA NOVA PARTIDA. Acima de tudo somos uma banda de hardcore. Uma banda punk. E queríamos fazer uma música bem old school, que é o que mais gostamos de tocar. Acho que saiu meio Ignite, Uniform Choice… E essa letra é um tabefe na orelha. Mas, por favor, não é uma musica “anti-coloridos” como falam por aí. Seria algo muito fútil pra se falar numa música. É uma letra contra conformismo e estagnação, algo sério, e buscando mostrar que não basta reclamar de tudo, tem que fazer acontecer.
ESTORVO. Como não poderia deixar de ser, em todos os discos do Dance of Days, minhas letras são pessoais. E Estorvo fala muito do momento que estou vivendo, não em relacionamentos mas na vida toda mesmo, de renovação de valores e propósitos. Me vi num ciclo vicioso nos últimos anos que não me deixava produzir, trabalhar, seguir adiante. Me sentia preso nesse estorvo e este foi um grito de basta. Gosto bastante da música também. É tipo Dag Nasty do “Can I Say” hahaha
MOVA é uma música punk. Diretona. Acho que traz um pouco de nossas raízes no Sick Terror (minha, do Tyello e do Verardi) e tem também influência de uma das bandas que me motivaram a formar o Dance of Days, o Endpoint, que posteriormente se tornou By The Grace of God. A letra tem toda essa contestação de valores sociais, sobre o que estamos fazendo nos tornando o próprio produto da sociedade de consumo. E pensei também em algo tipo aquele poema clássico do “first they came for the communists and I didn´t speak up…” pra concluir na hora em que estava escrevendo.
FALO SÉRIO, NÃO NASCI PARA O TÉDIO é mais outra bem pessoal. O Tyello diz que estamos todos na crise da meia idade punk, que enquanto o Marcelo compra um Maverick eu vou e faço uma tattoo do Crass hahaha Mas tudo o que escrevi tem a ver comigo mesmo, com o que quero de minha vida e de meus dias. E, claro, casa muito com o que todos eles querem dizer também… O som me lembra Husker Du, um pouco de Dischord Records, pelo menos foi no que me inspirei…
E LIVRASSE A TODOS QUE, PELO PAVOR DA MORTE, ESTAVAM SUJEITOS A ESCRAVIDÃO POR TODA VIDA é influenciada por essa geração do hardcore, Boy Sets Fire, By The Grace of God, Refused… que não deixa de ser a nossa geração também né? Acho que a pegada lembra um pouco Corvos Do Paraíso. E quanto a letra, bom, sou ateu. E se os crentes tem direito a fazer canções de louvor eu também tenho direito a fazer as minhas de descrença e auto suficiência. Fim. E cada um na sua. Acho que ficou bem mais explícita que Vinde A Mim. Mas acho bom isso. Pelo menos as pessoas me entendem de uma vez por todas. Uma curiosidade é que eu não tinha título pra essa música até o dia da gravação e ganhei ele num desses panfletinhos que as senhoras ficam entregando no metrô…
CORONA AUSTRALIS foi uma das faixas que adorei ter regravado. Ficou mais pesada que o single. Acho que o timbre old school desse álbum e a pegada rápida de gravação, sem muita frescura, deram uma cara mais forte a música. Sempre me lembrou bastante ATDI na fase “Acrobatic Tenement” sabe… gosto bastante. A letra tem a ver com cair e se levantar, encarar a depressão… ainda faz muito sentido pra mim.
DISCÓRDIA (CARRO BOMBA II) é mais uma old school, só que mais punk, tem uma parte meio Black Flag, “I waaaaaaaaaaas so waaaaaaaaaaasted” sabe, gingadona e quebrada, mas tem refrão desgraceira. Gostei muito. E gostei muito de abordar essas temáticas no Dance of Days. Tem o subtítulo Carro Bomba II porque o estilo da letra me remeteu muito a outra música. Acho que muita gente vai fazer esse link.
GAROTOS PERDIDOS é uma das mais legais do disco. Se não for a mais legal. Rock anos 80 sabe, The Cult, TSOL fase “Change Today?”, letra de instisfação, protesto, toda essa vibe… Acho que é uma de minhas preferidas. É tão crua que nem tem muito o que falar dela. É uma música foda pra cacete de tocar, só isso. E o nome é uma relação do sentido da letra com aquela vibe do filme The Lost Boys dos meninos vampiros. Total anos 80 né?
FERRIS E O QUEIMADOR DE LIVROS me remeteu muito a Um Canto Para Caronte quando estávamos compondo. Só que mais base cheia, mais pesadona, refrão heróico… Fala de conflitos internos, de solidão, mas tudo numa forma poética que mistura Montag de Farenheit 451 com Ferris Bueller e Hy Brasil de “Erik o Vicking”. Adoro essas coisas. Brincar com essas referências e no final dar um sentido a tudo… Não estamos afundando… Não estamos afundando…
UM SONÂMBULO EM SEU AQUÁRIO. Essa é a única letra que fala sobre relacionamentos pessoais nesse disco. Aliás é uma das poucas do Dance que fala disso, ao contrário do que muitos imaginam. Tem a ver com essa dificuldade que eu sinto em ter satisfação com o que tenho. Tem um refrão fortão nesse sentido, “O meu sorriso não me traz o que preciso pra estar assim, bem comigo. Não me faz acreditar que não há riscos em ficar”… Enfim. A TV está em mim… é difícil então conseguir mudar de canal.
MINHA LISTA DAS PESSOAS QUE SE CANSARAM DE MIM começa com a introdução de Os Funerais do Coelho Branco porque fala mais ou menos da mesma coisa, seis anos depois do lançamento da Valsa de Águas Vivas. Escrevi uma coisa assim esses dias: “Solidão é assim, a gente tenta dividir mas nunca consegue”. E meio que é isso mesmo. Acho que é a coisa mais pessoal que o ser humano pode ter na vida; sua própria solidão.
REPETINDO FRASES E RIMAS fecha o disco com um ar mais “up”, tipo A Vitória, sabe? Tem muito da mensagem de Café Gelado, de Interlúdio, de viver a vida sem se importar com o que os outros pensam. Acho que essa é uma das mensagens de rebeldia mais presentes nas músicas do Dance of Days. “Gosto de te ver sorrir. Eu já te disse no outro disco. Mas teu sorriso tem que ser teu. É muito mais bonito, já conheço o meu. Tenha sua cabeça, não quero ser exemplo. Pode ser clichê, mas seja você mesmo. E não deixe que te digam qual vai ser o seu caminho. Pra ser outra pessoa é melhor ficar sozinho“. E é isso aí.

Confira abaixo as letras do Disco Preto:

1 – COLHEITA MALDITA

Vomito o coração, de olhos abertos ergo meus punhos ao céu.
Do peito um grito se rasga aflito: Nunca mais submissão!
A colheita maldita aponta e indica: as crianças têm o poder.
É o fim senhores, as crianças cresceram e estão prontas para colher.

As canções proibidas correm nas veias: É hora de atacar.
Em cada olhar uma bandeira, a mesma vontade de gritar.
As crianças do campo cresceram!!
As crianças do campo cresceram!!
O coração de tróia entrou e explodiu: É hora de infestar.

Este é o tempo.
Essa é a nossa vez.
Crianças do campo o mundo é de vocês.

2 – ESTA É A HORA DE UMA NOVA PARTIDA

Agora você diz que cresceu,
que não se importa mais, que tudo morreu.
E deixa tomarem assim
o que lutamos tanto pra construir.
Consomem tudo o que acreditamos,
entopem as rádios de tudo que odiamos
e você aí parado reclamando
vê tudo ruir e diz não estar se importando.

Onde está você? Onde estou eu?
Será que vamos perder tudo o que amamos
por entre nossos dedos
sem resistir, sem mostrar que vivemos?
Será que ainda vê TODA FORÇA QUE TEMOS?

Posso ser tolo, mas meu coração
bate ainda a mesma canção.
E eu não vou me render a essa pilha de lixo,
a essa briga por restos, a essa gente feito bicho
brigando pra ser o foco do momento
e tomando o que foi de nosso movimento.
Que se fodam eles,
eu me sinto novo, cheio de energia
e vou brigar de novo.

Olhe pra você, pare agora,
tente entender, foi por tão pouco.
Roupas diferentes, “beber X não beber”,
“amor X protesto”, não nos deixaram ver
que roubavam aos poucos TUDO QUE NOS FAZ VIVER.

Enquanto nos engolimos em diferenças pequenas
eles destruiram tudo e tomaram a cena.
Mas eu sei tanto quanto você
o que é de verdade e o que não vai morrer
dentro dos corações
dos que enchem os olhos gritando refrões
que dizem a verdade sobre suas vidas.
Esta é a hora de uma nova partida.

3 – ESTORVO

Eu estou cansado
de morrer todos os dias.
É.
De morrer por você.
De morrer por meus erros.

Cansado de aceitar,
de não ver nada acontecer.
Engasgado com tantas palavras
e sempre cercado de gente errada
que não me deixa seguir em frente…
Que não me deixa gritar.

O que o punk virou?
O que eu me tornei?
Estou cansado de estar perdido.
Quero voltar a ser eu.

Cansado de falar.
De ver você fingir entender.
Cansado de nivelar por baixo
pra não sentir que não me encaixo.
Mas não é só porque estou aqui
que vou desabar.

Distração X Solidão:
Tudo aqui me cansa!
Afirmação X Projeção:
Você me dá preguiça!
Eu não tenho nada
A ver com você!!!

Se não pode mudar
é melhor me esquecer.
Que o meu saco não agüenta.
Daqui a 20 eu vou ter 60.
E eu não quero olhar pra trás
e ainda te ver lá.

4 – MOVA

Mova. Esse é seu lugar. Essa é sua parte na máquina. Mova. Mova.
Mova a falta de esperança. A desilusão. O olhar em distância. Mova. Mova.
Mova toda a culpa nas veias. A indiferença. Os canais de compras. Mova. Mova.

Mais um café. Mais outro cigarro. Falta de fé na vida.
Um escarro direto no olho. Pilhas de papéis. Nenhum socorro.
O peso nos pés do vazio da alma. Dinheiro dinheiro. Nada te acalma.
Viril brasileiro tua pátria te esfola. Mata suas crianças.
Vai te jogar fora. Apagar tuas lembranças.

Mova sua nova TV. A comida sem gosto. Sua pilha de contas. Mova. Mova.
Mova o sistema falido. A fome nas ruas. O valor esquecido. Mova. Mova.
Mova o Estado que escraviza, as leis que te sugam, a polícia assassina. Mova. Mova.
Mova todo desencanto, o pai, o filho e o espírito santo. Mova. Mova.

O olhar no espelho não encontra ninguém. Não sabe quem é ou se foi alguém.
O trabalho consome, o dinheiro não basta, o relógio sufoca, a rotina te acaba.
Você diz que “Viver é aprender a pisar”, que “ Sempre foi assim e nunca vai mudar.”
Então que se foda, não pense nos outros,
mas não espere ajuda ao gritar por socorro.

Porque é fato, um dia eles vão vir por você.
Derrubar sua porta. Te caçar a noite.
Já não serve mais. Vão vir te mover.

5 – FALO SÉRIO, NÃO NASCI PARA O TÉDIO

Pode ser que eu esteja envelhecendo.
Mas eu quero mais.
Quero paz.
Quero viver bem mais.
Gostar de mim.
Simples assim: bem mais.

Tantas coisas pra dizer.
Tão pouco tempo pra esperar.
Num piscar de olhos tudo se vai.
O que hoje é, amanhã nunca mais.
Os dias vão dançar.

Que viver assim,
só pra correr atrás,
me cansa.
Eu não sou como você.
Tudo aqui está tão bem
mas não me diz mais nada.

Tantas coisas pra dizer.
Tão pouco tempo pra esperar.
Num piscar de olhos tudo se vai.
O que hoje é, amanhã nunca mais.
Os dias vão dançar.

Eu que não vou ficar aqui
fingindo estar contente.
Sentado nessa praça, com cara de estátua,
perdendo meus dentes.

Tantas coisas pra dizer.
Tão pouco tempo pra esperar.
Num piscar de olhos tudo se vai.
O que hoje é, amanhã nunca mais.
Os dias vão dançar.

Falo sério, não nasci para o tédio.

6 – E LIVRASSE A TODOS QUE, PELO PAVOR DA MORTE, ESTAVAM SUJEITOS A ESCRAVIDÃO POR TODA VIDA

Não, não vou seguir sua luz.
Seu perdão não me interessa.
Não, não sou um pote vazio pra você encher de lixo.
Não tenho que agradar ninguém nem medir palavras:
Eu não compro seu Deus.
Não compro sua farsa.
Não vou me ajoelhar a seu livro sexista
de guerras e desgraças, julgamentos e mentiras.
Não, não vou me ajoelhar pra você.
Não vou me drogar com seu Deus
só pra me curar do vazio que você me deu
arrancando de mim a minha inocência e
trocando minhas pernas por suas muletas.
Não, você não vai mais arrancar nada de mim.
Não preciso de você pra provar minha existência.
Hoje eu vejo alem… alem dos seus muros, alem de suas feridas.
Não quero mais você nem suas mentiras.
Seus templos de miséria, sua história de covardia.
Não quero mais você nem sua porra de doutrina.
Sua igreja não me diz nada.
Sua vontade não me diz nada.
Não sou mais um fraco de joelhos.
Não sou mais o que apanha e diz amém.

7 – CORONA AUSTRALIS

Corona Australis despencou do céu.
Os bares fecham e é tudo tão vazio.
Caput Kaput Caput
Caput Kaput Caput
O olhar não mais se levantou
e o serpentário não me ressuscitou…
Não me ressuscitou…

Nada demais…
E eu espero não saber de um novo dia.
Hades já vai pedir as contas
e então vou esquecer…

Luther Blisset ninguém sabe onde está
e o telescópio mente.
Caput Kaput Caput
Caput Kaput Caput
Eu tranco as portas e não vou
atender mais ninguém.

Deixai a esperança…
“Deixai a esperança ó vós que entrais”
em minha casa pra tentar me encontrar.
Que já não sou mais tão inocente,
mas não quero ainda crescer…

Sun Tzu e Saint Seiya
Sun Tzu e Saint Seiya
Sun Tzu e Saint Seiya
Sun Tzu e Saint Seiya

Lá, lá, lá no céu radiante
vou, vou, vou voar sem destino.
Vou brilhar em chamas no espaço
e acordar todos os vizinhos.

Corona Australis despencou do céu.

8 – DISCÓRDIA (CARRO BOMBA II)

Faça mais barulho.

É, eu sou um poço de raiva mas eu tento ter foco.
Sociopata urbano, coração insano, meu desafio é ter foco.
Quando eu vejo demais, penso demais, isso as vezes não me faz bem.
Tanta gente escrota com Jesus na boca em Mercedes Benz.

Estou cansado de ver tanta violência logo quando acordo e lembrar de você.
Sou um carro bomba e cago pra suas compras Channel ou D & G..
No meu bairro as pessoas se esfaqueiam por qualquer porra que seja
e derrubam no chão sangue de escravidão, o óleo que move o sistema.

Discórdia. Discórdia.
Mas minha vontade é te acertar, mandar toda essa porra pro ar.
Discórdia. Discórdia.

Usam a pior das armas pra te manter passivo, usam a ignorância.
Controlam as escolas, educam as crianças vomitando propaganda.
Tente enxergar, a ascensão social que eles pregam é só pros filhos deles.
Conheça o inimigo, não fique de joelhos, não venda sua mente.

Discórdia. Discórdia.
Alguma coisa tem que ser feita, é hora de ação, hora de desrespeito.
Discórdia. Discórdia.

Desligue sua TV e leia 1984 (desconfie dos vermelhos).
Entenda Malatesta, Emma Goldman, Durruti.
Seja alguém verdadeiro, não pise nos outros e comece por você.
Acima de entender, faça.
As rádios mentem: é tudo criado pra você não pensar em nada.

Faça mais barulho. Faça mais barulho.
Faça sua raiva derrubar os muros.
Discórdia. Discórdia.
Faça sua raiva derrubar os muros.

9 – GAROTOS PERDIDOS

Queime, queime, queime…

Pra onde eu vou?
Onde vai você?
Será que o tédio nos travou de sonhar?
Sem rumo, perdidos,
mas sabendo bem
que essa é a hora da cidade acordar.

E que essa alma não se acalma.
Nunca quer voltar pra casa.
Que essa hora nunca chega
e guardamos tanta raiva.

Incendiarei metrópoles.

Não temos destino.
Não temos mais ninguém.
As utopias sumiram pelo ar.
E é tão impossível que nos faz tão bem
e nos dá tanta vontade de aprontar…

Queime, queime, queime…

Incendiarei metrópoles.

Eu vou.
Eu sou.
E espero você.

10 – FERRIS E O QUEIMADOR DE LIVROS

Sinto no ar um sabor que faz arder a alma.
Ectoplasmas brincam de esconder.
Nuvens alaranjadas forram todo céu,
refletem rubras no reflexo do véu
que cobre o mar escuro que jamais se abriu me salvar.

Hoje eu vou morrer como luz de estrela,
aos poucos, pra ver desaparecendo
todos discursos em que me agarrei,
cada planeta em que dancei,
pois irmão, já me fui há tempos.

Sorri quando te vi, parada assim olhando para mim.
Fazendo juras de não me esquecer, esquecer, esquecer…
Nossos pais são crianças e eles vem
me dar as mãos e dizer que tudo bem,
“vamos pra casa então que a festa acabou”.

O poeta errou, Hy Brasil afunda,
e sei, não vou nem saber se estive lá.
Ou se sangrei as frutas proibidas
que brilharam meus olhos.
Injusto demais. Como tudo aqui.

Point, Counter Point.

Vou então, Ferris Bueller está solto
e tão certo de que Montag
vem inflamar em quatro cinco um
cada perigo até não sobrar,
pois já não consegue mais estar bem…

11 – UM SONÂMBULO EM SEU AQUÁRIO

Foi vertigem, eu sei…
Sorri…
E pra consertar tentei dizer que tudo bem,
que estou bem pra voltar…
Mas tudo aqui está longe demais
e meus pés não me deixam em paz.
Não quero que me vejam rastejar.

O meu sorriso não me traz
o que preciso pra estar assim, bem comigo.
Não me faz acreditar
que não há riscos em ficar.

Do que eu sempre quis
a vontade nunca passou.
Outro sábado sem gosto a mais pra contar.
O relógio grita, ninguém vai ligar,
as séries repetem em todos os canais
e é tarde demais pra sair ou pra ficar…

O meu sorriso não me traz
o que preciso pra estar assim, bem comigo.
Não me faz acreditar
que não há riscos em ficar.

Tudo aqui… longe demais…
Desperdício… tanto faz…
Não é assim nos filmes.
Não devia ser.
A TV está em mim,
e mesmo quando desliga,
por preguiça de levantar
me rendo ao que está no ar…

12 – MINHA LISTA DAS PESSOAS QUE SE CANSARAM DE MIM

É tarde e eu não voltei.
Fechei os olhos
e pedi pra me esquecer:
- Me deixa em algum lugar
que eu não conheça dessa vez…

Talvez seja demais…
Talvez seja demais…
Talvez seja mais peso que eu possa suportar
em qualquer lugar,
tentando fingir que não sou eu.

Ouviram mil vezes
minhas mesmas estórias diferentes:
- Me deixa então te dar
um outro nome que inventei…

Me deixa então contar…
Me deixa então ligar,
discar um numero
de quem não sei nem o nome,
mas que pode me ouvir chorar sem me perder.

Tenho medo de dormir.
Medo de não acordar.
Tenho medo de acordar
e ainda estar aqui.

Olhar em volta e não ter mais volta.
A barba por fazer
e um nome a mais pra anotar
em minha lista das pessoas
que se cansaram de mim.

Seis anos e nada mudou.
O gosto das cinzas ainda está no chão.
Nem os peixes comeram os bolos que deixei
quando a luz apagou.

13 – REPETINDO FRASES E RIMAS

Quem nunca esteve assim?
Eu, que sou sempre o mais perdido,
escrevi meu nome tantas vezes no chão.
Mas sempre me levanto.
Sempre digo não.
Meu pai sempre dizia: “- O que eu fiz de errado?”
Que sou desobediente e tão mal educado.
Mas no fundo sabia que eu só conseguia
se fosse do meu jeito e como eu queria.

Gosto de te ver sorrir.
Eu já te disse no outro disco.
Mas teu sorriso tem que ser teu.
É muito mais bonito, já conheço o meu.
Tenha sua cabeça, não quero ser exemplo.
Pode ser clichê mas seja você mesmo.
E não deixe que te digam qual vai ser o seu caminho.
Pra ser outra pessoa é melhor ficar sozinho.

Que eu, há tempos na estrada
ainda escuto tanta coisa chata.
Tanta gente ainda não aceita
que eu viva a vida da minha maneira.
E que eu repita frases e rimas
só pra dizer que não perco meus dias
com a cara grudada na vidraça
sentindo o gosto de uma vida sem graça.

E, se pensar em mim,
é só tocar seus discos
e me dar uma ligada.

Ouça o Disco Preto - http://tramavirtual.uol.com.br/musica/playlist/dynamic/disco/56578

9.02.2010

Semana da Independência - 6/09 a 12/09

Ocorrerá entre os dias 6 e 12 de setembro, em São Paulo, o festival Semana da Independência, na casa de shows Hangar 110, que é uma das organizadoras do evento junto com o site Zona Punk e o jornal Antimídia. Paralelamente a este evento, os organizadores também realizarão uma série de shows e festas no clube Outs, sendo que, todos que tiverem o canhoto do ingresso dos shows do Hangar 110, poderão entrar de graça.
Serão seis dias de shows com diversas bandas independentes, sendo que no feriado de 7 de setembro, das 14h às 20h, ocorrerá a Feira da Independência, com exposições de fotografias e cartazes de shows; exposição de vídeos independentes como clipes, documentários e shows que aconteceram no Hangar 110; shows acústicos com Redson do Cólera e Teco Martins do Rancore; e stands vendendo fanzines e diversos produtos independentes, como: cd`s, DVD`s, postais, posters e camisas.
Participarão do festival algumas das principais bandas independentes do Brasil, como: Dance of Days, Garage Fuzz, Zumbis do Espaço, Sugar Kane, Hateen, Fistt, Gritando HxCx, Questions, Presto?, entre outras.

Para maiores informações, acesse o site do festival Semana da Independência:


Confira abaixo o Manifesto do festival Semana da Independência:

A Semana da Independência não é apenas um festival. É um evento apoiado sobre o senso comum de diversas bandas que estão na cena musical independente de São Paulo há tempos e que acreditam que uma nova partida só depende do envolvimento e participação das próprias bandas, do público, dos fanzines, selos, artistas e de todos que tenham vivo em si o espírito que move este cenário e o mantém como algo culturalmente produtivo e promissor.
Nos últimos anos o que se viu da cena independente foi a transformação de um espírito de atitude jovem num mero trampolim para o mainstream. O espírito foi se perdendo e, para muitos, tocar no meio independente era apenas um meio de chamar a atenção de algum grande produtor ou gravadora para obter fama e sucesso. Não condenamos, cada um com seus objetivos e prioridades, mas não é isso que a cena independente sempre defendeu e manteve vivo.
Um espaço para artistas se expressarem sem censura, com plenitude, sem interferência de visões comerciais, apoiado nas bases do DIY, é isso o que a cena independente sempre quis, o que todos envolvidos nesse projeto ainda acreditam e o que, a partir desse marco, não vamos deixar ser tomado, consumido ou diminuído por empresas megalomaníacas em busca de novos nichos de mercado. Não vamos nos render.
7 dias de evento. 50 shows. Feira de material alternativo. Exposições. Intercâmbio... Saudosismo? Não, não temos saudade do PRESENTE. Nosso tempo é AGORA e esse espaço é NOSSO!!! Sempre foi, sempre será e não vamos abrir as pernas pra quem tenta usar a mídia para forçar a mentira de que tudo está acabado. Participe da Semana Da Independência. E, mesmo que não possa comparecer devido à distância, ajude a divulgar. Essa luta é de todos nós.