3.06.2011

Entrevista: Carbona

Entrevista publicada no site Vale Punk no dia 30/01/2008

No mês de Dezembro de 2007, o Carbona, uma das principais bandas independentes do Brasil, completou 10 anos de atividade. Para comemorar a longevidade do grupo, o Vale Punk preparou uma entrevista especial com o vocalista e guitarrista Henrique Badke, que nos contou um pouco da história do Carbona nesta primeira década e alguns projetos para este ano de 2008.

Como e quando vocês criaram o Carbona?
Carbona nasceu em 1997. Dezembro de 97. Uma forma banal, porém muito especial de se começar a banda. Três amigos conversam sobre música e não demora a surgir a célebre frase: Vamos fazer uma banda? No dia seguinte ensaiamos duas vezes. Aquilo era o início de tudo. Não paramos mais.
Quais são as principais influências musicais no som do Carbona?
Ramones e as bandas da Lookout da década de 90: Queers, Screeching Weasel, Groovie Ghoulies.
Comente um pouco sobre o universo das letras do Carbona.
Estórias contadas em bases simples de três acordes e melodias grudentas. O Carbona funciona como filmes de sessão da tarde musicados ou estórias em quadrinhos musicadas. Acho que isso define vem.
O primeiro cd de vocês, o Go Carbona Go, de 1998, foi lançado primeiramente no exterior pelo selo canadense AMP Records, para depois ser lançado no Brasil. Por que isso aconteceu e como ocorreu esse contato com esse selo?
Quando gravamos a demo estávamos conhecendo a web. A proposta daquele novo meio era fascinante. A idéia de conectar pessoas revolucionando a relação tempo X espaço. Começamos a mandar email e demos para todo o mundo. A resposta mais bacana veio do Canadá. Nosso primeiro disco também.
Como foi essa experiência de ter logo o primeiro disco de vocês sendo lançado logo de cara no exterior?
Foi legal, pudemos aprender muito com o jeito em que a “correria” independente ela feita por lá e depois aplicar aqui. Foi também um sonho tocar com bandas das quais éramos fãs como Groovie Ghoulies e Marky Ramone. Hoje é uma memória de algo bacana que nos aconteceu. Mas parte daquela viagem está com a gente em todas as tours que fazemos até hoje.
Neste mesmo ano vocês realizaram uma turnê pelos EUA e Canadá. Como foi essa tour e a receptividade do público?
Foi como realizar um sonho. Sempre olhava pras camisas de tour de banda gringa e pensava: "como deve ser você pegar um avião e it tocar em outros país?”, e olhava praquilo com muita distancia... A gente teve a chance de tocar com bandas das quais éramos fãs e tínhamos dezenas de cds na prateleira como os groovie ghoulies que contavam na época com Dan Panic do Screeching Weasel na batera e com B face do Queers no baixo, sem falar em Marky Ramone que na época estava com os Intruders e no Chixdiggit do Canadá. A gente aprendeu muito naquela tour e grande parte do que fizemos aqui foi a partir de aprendizado de coisas da tour adaptadas pra nossa realidade, como, por exemplo, as tours seqüenciais que fizemos aqui nos anos seguintes.
Vocês têm planos de realizar uma outra turnê por outros países?
Vontade a gente tem, mas sempre que a gente arruma tempo pra poder excursionar a gente acaba pensando em fazer por aqui mais uma vez. O Brasil é um país incrível, muitos lugares bacanas pra visitar, e à cada vez que você passa numa cidade é uma estória diferente. Creio que um dos maiores presentes que o rock me deu foi conhecer melhor meu país. E ainda há muito a ser feito!
Logo depois que vocês voltaram da turnê, vocês lançaram o Go Carbona Go aqui no Brasil pelo selo Traidores Records. As versões internacional e nacional do disco foram às mesmas?
O disco é basicamente o mesmo, mas lá fora saiu com uma ou outra faixa demo. 
No ano seguinte, em 1999, vocês iniciaram uma parceria que duraria muitos anos com a Thirteen Records, com o lançamento do Back To Basics. Como começou essa parceria?
Éramos fãs do Zumbis do Espaço, um dia encontrei o André num show em São Paulo e fui falar com ele. “Ei, tenho uma banda, sou fã do Zumbis e  soube que você tem um selo, posso te mandar o cd?” . Deixei um cd com ele e o resto é história.
O Back to Basics traz alguns dos maiores clássicos do Carbona em inglês, você acredita que esse disco ajudou a divulgar o bubblegum na cena nacional e chamar a atenção para outros grupos do estilo?
Difícil saber. O Back to Basics é um disco que reúne várias gravações DEMO que fizemos. Acabou sendo um dos discos de maior vendagem. Difícil dizer o que ele representou pra outras bandas, mas pro CARBONA e pro nossos fãs representou um “puta” disco.
 Em 2000 vocês lançaram o Straight Out Of The Bailey Show, que traz três covers, entre elas a clássica Teenage Kicks, do The Undertones. Como surgiu a idéia de incluir essas músicas?
Das bandas européias, o Undertones era a que a gente mais estava próxima no que diz respeito à temática das letras. Teenage Kicks é um hino. Curtíamos a música a letra e achamos que seria legal gravar.
A arte da capa e do encarte desse disco é uma das mais bonitas já feitas em um disco de vocês. Comente um pouco sobre ela e como foi feita a criação.
Isso significa que todas as outras são feias (risos)? O Bailey é um trabalho do Von Victor, mesmo ilustrador dos discos do Zumbis. O Trabalho dele é incrível. Acho que captou bem o que a gente queria e colocou o CARBONA no universo dos quadrinhos.
Em 2000 vocês lançaram um disco ao vivo, o 3 Years Fuckin Up LIVE!, que retrata bem como é o Carbona ao vivo. Como foi essa experiência?
Foi divertido. Registrou um show numa época muito especial. Mágica! Na época pouca gente gravava ao vivo também. Foi divertido.
Há planos de lançamento de um disco ao vivo com as músicas em português?
Há planos, falta tempo e dinheiro (risos). A gente acaba sempre priorizando músicas inéditas.
Também em 2001 vocês lançaram o A Mighty Panorama of Earth Shaking Rock And Roll, que tem uma história interessante, ele era para ser o segundo disco e acabou sendo o quinto. O que aconteceu?
Não me lembro ao certo... Mas este é o meu favorito disco da fase em Inglês. Macarroni Girl faria parte deste disco. Não entrou por que o Back to Basics saiu primeiro. Arrisco a dizer que o MIGHTY, o menos conhecido de todos os discos, é um dos melhores senão o melhor álbum do CARBONA.
A Mighty Panorama of Earth Shaking Rock And Roll acabou sendo o último disco em inglês. Vocês têm planos de lançar mais material em inglês ou até mesmo de lançar uma coletânea com esse material antigo e as raridades?
Sim, a gente gostaria de gravar, mas acaba sempre priorizando músicas inéditas em português.
2002 foi um ano de poucos lançamentos e da decisão de lançar um disco em português. Por quê vocês optaram por esse desafio?
A gente já tinha estas músicas prontas. Ao longo dos primeiros anos a gente sempre fazia das músicas em português uma recreação nos ensaios. Um dia tocamos quase 15 músicas e pensamos “Porra temos um disco aqui”. Achamos aquilo o máximo e resolvemos gravar.
 Nesse mesmo ano vocês lançaram alguns EP`s virtuais com versões demo das músicas em português e elas tiveram uma boa receptividade do público. Você acha que essa boa aceitação do público foi decisiva para o lançamento do disco em português?
Sim, mas não decisivo. Nos importa, obviamente, o que os fãs pensam do nosso trabalho, mas não deixaríamos de lançar aquele disco por nada.
Esse primeiro disco em português era para se chamar Rock`n`Roll Colegial, por quê houve a mudança para Taito não Engole Fichas?
Por que é muito mais bacana! Risos. Um título que retrata a mesma atmosfera de criação, mas é muito menos óbvio e  tem uma conexão forte com minha adolescência.
O Taito não Engole Fichas, se não é o melhor disco do Carbona, com certeza foi o que trouxe mais exposição na mídia, mais popularidade e fez com que vocês pudessem tocar em cidades que ainda não haviam visitado. Você acredita que esse é o disco mais importante na carreira de vocês?
Sim. Concordo que é um divisor de águas na nossa caminhada.
Para divulgar esse disco vocês caíram na estrada com o Magaivers e passaram por várias cidades do país com a Chicletour. Como foi essa turnê?
A Chicletour I e II foram os melhores dias que vivi com a banda. Tour longas numa van cheio de amigos. Era uma banda “sessão da tarde” vivendo dias de “sessão da tarde”. Além disso, o modelo de trabalho era sensacional. Duas bandas, de estados diferentes, produzindo, durante 4 meses, TUDO: transporte, shows, hospedagem, merchandising, um grande projeto!
Também com o Taito não Engole Fichas, vocês gravaram o primeiro clipe de vocês, da música Fliperama. Como foi essa experiência de gravar um videoclipe e qual a importância dele para o grupo?
Foi divertidíssimo! Nunca tinha dado muito valor pra isso até o dia em que filmamos. O clipe foi resultado de uma grande “correria” e força do Samir, um dos diretores. Acho que o clipe ajudou a traduzir ainda mais o espírito da banda.
Em 2004 vocês participaram do Porão do Rock em Brasília. Como foi tocar para mais de 50.000 pessoas e no palco principal do evento?
Uma das experiências mais fodas da minha vida. Tenho muitas lembranças daquele fim de semana! Muitas.
Também em 2004 vocês faturaram o prêmio de melhor disco de punk rock nacional de 2003. Talvez esse prêmio tenha sido o primeiro conquistado pelo Carbona. O que isso representou pra vocês?
Ficamos contentes por ter sido um prêmio resultante de votação de internautas. Prêmios com escolha da audiência é sempre bacana.
Ainda em 2004, vocês participaram da coletânea Punk Rock Classics, do selo Ataque Frontal e que era uma homenagem a bandas que ajudaram a construir a história do punk rock. Como foi a participação de vocês?
Procuramos gravar músicas de bandas com as quais nos identificávamos ou que ouvíamos. Misfits, Undertones são bandas que todos nós ouvíamos.
 O Cosmicômica veio em 2005 e com ele uma mudança na sua maneira de cantar. Por quê houve essa mudança?
Aos poucos a idéia de cantar com a voz parecida com a do Bem Weasel foi “perdendo a graça”. Risos. Rasgar a voz era um artifício para não desafinar muito. Tinha muitas referências de vocais rasgados. Num dado momento comecei a ver que cantar com um vocal próximo seria um desafio e positivo para a banda. No Cosmicômica isso começa, no Apuros se consolida.
Nesse disco tem uma música diferente de tudo que o Carbona já fez, que se chama Dançando The Doors com Garotas ao Redoors. Como foi gravar uma música totalmente fora dos padrões do Bubblgum característico do grupo?
Esta música não estava programada desta forma. Era pra ser apenas violão e voz. O Kaly, autor da música, estava de passagem pelo Rio. Estávamos gravando o disco, ele chegou no estúdio começamos a pirar e quando vimos estávamos há horas gravando aquilo. Acho sensacional. Narra uma estória verídica.
Para divulgar o Cosmicômica vocês realizaram a Chicletour II, novamente ao lado dos Magaivers e em alguns shows do Sul contaram com a presença do Tequila Baby. Como foi essa turnê? 
As duas edições da Chicletour foram os melhores momentos da minha vida. Além de divertido elas foram a concretização de sonhos e materialização de uma filosofia de trabalho que a gente alimenta a muito tempo. A “gastação de sola de sapato” é uma filosofia de vida.
Em 2005 vocês gravaram a trilha sonora do curta Eu, Você e Seu Husky Siberiano e participaram de um tributo ao Ultraje a Rigor. Como foram essas experiências? Vocês gostariam de produzir outras trilhas?
Achei sensacional. Acho que uma das coisas bacanas do CARBONA é a capacidade de contar estórias musicadas. Quando você tem uma versão ali filmada é uma sensação bacana. É como se o “monstro levantasse da cama” risos.
Também em 2005 você gravou um EP solo, intitulado Uma Vida, Três Acordes e foi um lançamento inovador em relação ao formato de se distribuir música. Por que lançar um EP solo e o que ele oferecia além das músicas?
Aquele EP surgiu por que o Magaivers tinha convidado o CARBONA para voltar à estrada e não poderíamos tocar. Pensei. O CARBONA não pode, mas eu estou com tempo pra voltar à estrada. Resolvi gravar músicas, montei um show e ensaiei com o Magaivers dois dias antes de partir para 15 shows.
 Você tem planos de lançar mais material solo?
Sim, muitos planos. E já estive mais longe disso. Não gosto de chamar de solo. São apenas músicas. Sou compositor e gosto de escrever e gravar músicas.
Em 2006 vocês deram um tempo com a parceria de anos com a 13 Records para lançar pela Revista Outra Coisa. Por que houve essa mudança?
A proposta da Revista era interessante. Distribuir o cd por todo Brasil por um preço acessível era algo que casava com nossos objetivos. Somos muito gratos pela 13 RECS e pelo trabalho do André até hoje. Sempre nos incentivaram e acreditaram no nosso trabalho.
Para lançar o Apuros em Cingapura vocês começaram uma parceria com o selo Toca Discos e o gravaram na Toca do Bandido, um dos melhores estúdios do Brasil. Qual a importância de ter toda essa estrutura para o resultado final do disco?
A gente sempre sonhou em gravar num estúdio assim. Pela primeira vez gravamos com um produtor, o Thomas Magno, que fez a diferença. Até ali era basicamente entrar, apertar play, rec e pronto. Gravar num estúdio como aquele, com alguém ajudando, realmente amplia a percepção do que é fazer um disco.
Nesse disco, vocês gravaram o videoclipe da música Lunático. Como foi a produção dele?
Toda vez que penso neste clipe penso no esforço pela Cinerama Brasilis (produtora) e no Vanderput e Nakamura que fizeram este clipe acontecer. Eles compraram a idéia de fazer o clipe mesmo estando na posição de quem vende risos. Eles deram todo apoio, mobilizaram uma equipe bacanissima e fizeram a coisa acontecer.
Alguns veículos de comunicação que resenharam o Apuros em Cingapura disseram que as letras e a sonoridade do Carbona estão mais maduras. Você concorda com essas opiniões?
Sob certo aspecto sim, mas na verdade a essência está lá. A temática inserida no mesmo universo de criação, as melodias grudentas, as bases e solos simples.
Em 2007 vocês participaram do festival VANS Zona Punk Tour. Com foi realizar uma turnê ao lado de outros grandes grupos da cena e que possuem uma sonoridade diferente do Carbona?
Foi interessante. Acho muito válido a fórmula de shows com bandas de sons diferentes. Pluralidade é algo importante para o mundo. A tour foi bacana como todas as outras. Estar na estrada é turbinar a vida.
Os números do Carbona são impressionantes para uma banda independente. São 8 discos lançados e mais de 400 shows pelas mais variadas cidades do país em 10 anos de grupo. Você acredita que a hiperatividade é o grande diferencial do Carbona?
Eu não costumo levantar a bandeira da produtividade. Na música quantidade não é mérito. Acho que nosso mérito é fazer com vontade aquilo que a gente gosta. Cada banda e artista tem seu jeito próprio de trabalhar. O nosso foi desta forma e nos trouxe até aqui.
Durante esses 10 anos vocês tocaram junto com grandes ídolos de vocês, tanto no Brasil quanto no exterior, como Marky Ramone, The Queers e Grouvie Ghoulies. Como foi tocar junto com essas bandas e com quem mais vocês gostariam de tocar?
Foi muito bacana tocar com bandas das quais tenho dezenas de discos na prateleira. O Marky é um Ramone! Não precisa falar mais nada. Na época em que tocamos lá ele ainda não tinha vindo sozinho pro Brasil. Foi mágico. E o Ghoulies na época tinha B Face no Baixo e Dan Panic na Batera! Um selecionado pra nos fãs do bubblegum.
Quais as principais diferenças da cena existente na época que o Carbona começou para a cena atual?
O que mudou nesses 10 anos? Acho que a maior diferença fica por conta da Internet. Existe A.I e D. I . Antes da Internet e depois da Internet. Não faço comparação do tipo melhor ou pior. Mas está tudo muito diferente.
Quais são os projetos do Carbona para 2008?
Gravar um novo disco e cair na estrada. O mesmo que fizemos ao longo dos últimos 10 anos.  Risos
É isso Henrique. Parabéns pelos 10 anos de Carbona e por tudo que vocês conquistaram nesse período. Muito obrigado pela entrevista. Deixe um recado para os leitores do Vale Punk. 
Obrigado pela força ao longo destes anos de trabalho. Um brinde à todos aqueles que fazem da música uma eterna fonte de diversão!

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