10.21.2006

Fim do CBGB & OMFUG


No último dia 15 de Outubro, Patti Smith realizou o último show da história do CBGB & OMFUG (Country, bluegrass, blues and Other Music For Uplifting Gormandizers), lendário bar localizado no bairro do Bowery, em Nova York. Hilly Kristal lutava contra o despejo desde 2005, devido a falta de pagamento do aluguel do espaço. Hoje, em NY, os proprietários dos prédios cobram aluguéis com valores muito elevados se comparados com os do início da década de 70. Pessoas como Tommy Ramone, Debbie Harry do Blondie e Steven Van Zandt, guitarrista do Bruce Springsteen, criaram no ano passado a campanha Save The CBGB para tentar arrecadar fundos para ajudar Kristal a pagar as dívidas, mas não deu certo e uma era chega ao fim. A casa foi o palco onde surgiu nomes como Ramones, Blondie, Talking Heads e Television.
A última semana do clube foi marcada com uma série de shows com bandas que começaram suas carreiras realizando shows no local. Os primeiros shows foram do Bad Brains, grupo de hardcore do início da década de 80 e formado exclusivamente por negros, que tocaram nos dias 9, 10 e 11, ao lado do Avail, Bouncing Souls, Underdog e Stimulators.
Na sexta-feira, sábado e domingo os shows foram dos grupos que começaram suas carreiras na mesma época que o CBGB surgiu. Na sexta a principal atração foi o The Dictators, que também tocaram no sábado, mas como coadjuvantes da apresentação acústica de Debbie Harry e Chris Stein do Blondie. No domingo e último dia de shows, Patti Smith foi a principal atração e teve participações especiais de Flea, do Red Hot Chilli Peppers e Richard Lloyd, do Television. Patti fugiu um pouco da filosofia da casa, e tocou clássicos que fizeram a história da casa como: The Tide is High, do Blondie, Sonic Reducer, dos Dead Boys e um medley de músicas dos Ramones.
O CBGB surgiu no início da década de 70, mais precisamente no ano de 1973 e tinha como principal objetivo ter shows de Country, bluegrass e blues, como sugere o próprio nome. Hilly Kristal só permitia shows de grupos que tocassem músicas próprias e, com o passar do tempo, passou a apostar nos grupos que estavam surgindo em Nova York e que tinham uma sonoridade mais primitiva. No início da década de 70, esse tipo de som não era nada comercial, pois a moda do momento era o rock progressivo.
Com isso, o Television se tornou o primeiro grupo dessa geração punk e new wave de Nova York a tocar no CBGB, em março de 74. No mês de agosto foi a vez do Angel & the Snakes, que mais tarde veio a ser conhecido como Blondie, e dos Ramones, o grupo que fez o clube ter a importância que tem hoje devido as históricas apresentações dos quatro garotos de Forest Hills no Queens.
No início o público dos shows era formado, na grande maioria, por músicos que tocariam no mesmo dia. Os shows dessas bandas eram semanais e Hilly realizou alguns festivais, e com isso, aos poucos, o público foi crescendo e algumas apresentações passaram a ter lotação esgotada.
Com certeza, os shows mais lendários no CBGB foram os dos Ramones. As músicas raramente passavam dos dois minutos e, consequentemente, as apresentações eram muito curtas e eles tinham que repetir duas vezes algumas músicas. Outro fator marcante era a pouca sincronia entre os acordes que cada integrante tocava e a semelhança entre as músicas, o que permitia saber o fim de uma e o começo de outra era a clássica contagem do one, two, three, four, feita por Dee Dee Ramone. As constantes discussões no palco para decidirem qual seria a próxima canção também fazia parte das históricas apresentações do grupo no CBGB.
No início da década de 80, a cena que manteve o clube vivo foi o hardcore underground de Nova York, com bandas como Bad Brains, Agnostic Front, Sick Of It All, Gorilla Biscuits e Youth of Today. Nessa época havia uma matinê aos domingos e que era conhecida como Trash Day. A festa começava a tarde, terminava antes das 10 horas da noite e os ingressos eram sempre muito baratos. Mas no final da década a casa deixou de realizar shows de hardcore e punk por causa da extrema violência dentro e fora dos shows. Isso fez com que abrisse um espaço ainda maior para bandas de rock alternativo como Sonic Youth e Living Colour.
A partir dos anos 90 o CBGB passou a abrir espaço para todos os estilos musicais, sem apresentar nenhum tipo de regra para permitir ou não o show de um determinado grupo. Mas mesmo assim, o público e as bandas de hardcore e punk rock continuaram a ser os principais freqüentadores da casa até o último show realizado no dia 15 de Outubro.
Em 2008, Hilly Kristal levará o CBGB & OMFUG para Las Vegas, o que, com certeza, não terá a mesma representatividade e importância como o que está a 33 anos na 315 Bowery na Bleecker street em Manhattan. São 33 anos valorizando a originalidade e criatividade dos músicos, e não apenas a técnica. Uma casa como o CBGB & OMFUG, que nasceu com o espírito do punk rock antes mesmo de ele surgir, merecia a importância que conquistou nesses 33 anos e merece o título de templo do punk rock mundial.
Ouvindo:
Social Distortion - Somewhere Between Haven and Hell (1992)
Greg Graffin - Cold as Clay (2006)

Um comentário:

Ge Detogne disse...

Huhu! Adorei o texto!

Não sei o motivo, mas a 315 Bowery Bleecker Street me fez lembrar a Seven Sisters Road de Top Five.

Ah.. e me lembrei daquela matéria (acho que da VEJA) que falava sobre a tal rua em NY (acho), na qual as pessoas colocavam dinheiro numa das mãos e metiam o braço até mais ou menos a altura do ombro e, daí, recebiam uma injeção de heroína. Haha! Depois alguns eram encontrados mortos no próximo quarteirão...

Ok. NÃOS ÀS DROGAS!

Mas relatar td isso de perto seria o máximo!

Bora, Calhorda! O q a gente tá fazendo aki? rs rs......

Mandou bem mais uma vez! Valeu por um pouco mais de cultura punk!

Bjossssss