11.12.2010

Millencolin - Pennybridge Pioneers 10 Years Anniversary Tour.

Na quinta-feira, dia 11 de novembro, os suecos do Millencolin iniciaram em Porto Alegre a quarta tour da banda pelo Brasil, que também passou pelo país nos anos de 1998, 2006 e 2008. Mas desta vez os shows serão mais do que especiais, pois serão em comemoração aos 10 anos de lançamento do disco Pennybridge Pioneers, lançado em 2000, um dos melhores da discografia do grupo e que está sendo tocado na íntegra na tour mundial Pennybridge Pioneers 10 Years Anniversary Tour.
Além de Porto Alegre, o grupo passará por Curitiba, dia 12/11, Rio de Janeiro no dia 13/11 e São Paulo, no dia 14/11. Vale lembrar que a banda Fistt, de Jundiaí, interior de São Paulo irá realizar os shows de abertura no Rio e em São Paulo. No RJ, a banda carioca Phone Trio também participará do evento, fazendo show de lançamento do novo disco Huston, We Have a Problem. Vale lembrar que os paulistas ainda terão a oportunidade de assistir, no dia 15/11 a apresentação de Nikola Sarcevic, tocando músicas da carreira solo, que fazem parte dos discos Lock-Sport-Krock (2004), Roll Roll and Flee (2006) e Nikola & Fattiglapparna, lançado em março deste ano e o primeiro que ele lança com todas as letras em sueco.

Início do Millencolin e os Primeiros Discos

 O Millencolin foi formado em Outubro de 1992, na cidade de Örebro, na Suécia, pelos músicos Nikola Sarcevic (vocais e baixo), Erik Ohlsson (guitarra), e Mathias Färm (bateria). Com esta formação, eles gravam a primeira demo tape do grupo, chamada Goofy, lançada no início de 93.
Mas esta formação não duraria muito tempo, já que, logo depois do lançamento desta demo tape, entra para o grupo Fredrik Larzon, que assume as baquetas e Mathias Färm passa a ser o segundo guitarrista. Com esta nova formação, que é a mesma até hoje, o grupo lança mais uma demo tape, chamada Melack, lançada no verão europeu daquele mesmo ano.
A receptividade do público é boa e o grupo entrega as demo tapes para a Burning Heart, selo também da Suécia e também formado naquele ano de 1993. Este ano acaba sendo de grande trabalho para o grupo, pois em novembro o selo Burning Heart oferece a oportunidade da gravação de um EP e eles lançam, Use Your Nose, com seis músicas, algumas sendo retiradas das duas demo tapes, mas com uma melhor sonoridade, devido a melhora da qualidade da gravação.
Em julho de 1994, o EP Skauch é lançado também pela Burning Heart. Inicialmente, o disco era para ser um single da música “The Einstein Crew”, mas os integrantes do Millencolin decidiram gravar mais algumas covers e o álbum acabou contando com um total de seis músicas, incluindo "Coolidge", do Descendents e “Knowledge” do Operation Ivy e regravada por diversas bandas de hardcore.














Em outubro daquele mesmo ano chega as lojas européias o primeiro full-lenght do grupo, intitulado de Tiny Toons, em homenagem ao desenho animado Tiny Toon Adventures, trazendo uma capa também inspirada nesta série televisiva. A homenagem trouxe problemas para o grupo, que sofreu com um processo do grupo de entretenimento Warner Bros, dona dos direitos autorais da marca Tiny Toon Adventures. Em seguida, foi a vez da The Walt Disney Company, outro grande conglomerado capitalista de mídia e entretenimento do planeta querer arrancar dinheiro de uma simples banda independente em início de carreira. O motivo desta vez foi o título da música “Disney Time”. Em 96 o álbum foi relançado com outra capa e com o título de Same old Tunes. A música “Disney Time” teve o nome alterado para “Diznee Time”.
Mesmo com todos estes problemas jurídicos, o Millencolin continuou a excursionar durante o ano de 1995 e em agosto entraram em estúdio para gravar o segundo disco, Life on a Plate, lançado em outubro daquele ano. Na turnê deste álbum, o grupo tocou pela primeira vez fora da Escandinávia e recebeu uma proposta do selo Epitaph (que lançou grupos como Offspring, Bad Religion, Pennywise, NOFX e Rancid) para lançar os dois primeiros discos do grupo nos EUA.
Com o crescimento da popularidade do Millencolin por todo o mundo, o grupo volta, em janeiro de 1997, aos estúdios Unisound, na terra natal da banda e onde gravaram os dois primeiros álbuns, para a gravação do próximo disco, For Monkeys, lançado em abril e maio daquele ano, na Europa e nos Estados Unidos respectivamente.
Com este disco, o grupo realiza turnês por diversos países do mundo, como Japão, Austrália, Brasil e Canadá; além de serem convidados a participar de um dos maiores festivais itinerantes do mundo, a Warped Tour, nos EUA.
 
A Nova Explosão do Punk no Mundo

Toda esta popularidade crescente do Millencolin e de diversas outras bandas de hardcore melódico na segunda metade dos anos 90 se deu, além da ótima qualidade de muitas delas, ao grande boom do punk em 1994 com o lançamento dos discos Dookie, do Green Day e Smash, do Offspring, que juntos venderam quase 20 milhões de cópias somente nos EUA. Outros lançamentos que foram importantes nos anos de 94 / 95 e que ajudaram nesta mais nova explosão do punk rock e hardcore no mundo foram: Punk in Drublic, do NOFX; ...And Out Come The Wolves, do Rancid; Stranger Than Fiction, do Bad Religion e About Time, do Pennywise.
Enquanto isso, no Brasil, grupos como Raimundos e Planet Hemp também estouravam no cenário nacional, de forma independente, com um som fortemente influenciado pelo hardcore, mas com uma sonoridade própria. Enquanto os Raimundos misturavam forró com hardcore, o Planet Hemp utilizava elementos do Rap e do Hip-Hop, sendo bastante influenciado por grupos como Beastie Boys, Public Enemy, Cypress Hill e Rage Against the Machine.
Outro fator a favor desta popularidade do hardcore melódico na segunda metade da década de 90, e interessante de ressaltar, foi o começo da inclusão de muitas músicas dessas bandas nos filmes de surf daquela época. Isto ajudou a fazer com que um público de fora do meio punk / HC passasse a conhecer as bandas e o estilo. A rapidez e a agressividade das músicas se encaixavam perfeitamente com as manobras que os surfistas realizavam nas ondas. Filmes como Campaing, Focus e Momentum I e II, produzidos pelo cinegrafista Taylor Steele, e que traziam como trilha sonora bandas como Pennywise, Bad Religion, Sublime, No Fun At All, Blink 182 e muitas outras.
Aqui no Brasil, um país em que era difícil de encontrar discos destas bandas e que dificilmente se ouvia músicas desses grupos nas rádios; além de ser uma época em que poucos tinham acesso a internet e quase não se baixava música; muitos descobriram muitas dessas bandas citadas nesta matéria, através destes filmes ou de coletâneas lançadas pela Revista Fluir. Uma dessas pessoas é este que vos escreve.

O Disco Pennybridge Pioneers

Mas voltando ao tema central desta matéria, em julho de 1999, um mês antes de entrar em estúdio para a gravação do quarto disco, o Millencolin lança The Melancholy Collection, que como o próprio nome já diz, é uma compilação que traz os dois primeiros EPs, b-sides dos singles, músicas raras e outras que nunca haviam sido lançadas em disco.
Em agosto daquele ano o Millencolin sai pela primeira vez da Suécia para a gravação de um disco. O grupo vai para Hollywood, na Califórnia, para gravar no estúdio Westbeach Recorders, de propriedade do dono da Epitaph e guitarrista do Bad Religion, Brett Gurewitz, que também foi o produtor deste disco do Millencolin. Neste estúdio foram gravados grandes clássicos do hardcore, como os álbuns: Suffer (1988), No Control (1989) e Against the Grain (1990), do Bad Religion; o primeiro e homônimo disco do Pennywise, de 1991; e Robbin' the Hood (1992) do Sublime.
Após três discos com uma sonoridade bem hardcore e com algumas influências do skacore, também em naquela segunda metade da década de 90, era hora do Millencolin diversificar e buscar novas influências para a sonoridade do grupo.
Pennybridge Pioneers foi lançado no dia 22 de fevereiro de 2000 e foi o primeiro disco do Millencolin a ter o lançamento simultâneo na Europa, pela Burning Heart e nos EUA, pela Epitaph. O disco foi o primeiro do Millencolin sem nenhuma música com uma levada mais skacore. O disco já começa a mostrar a sonoridade que a banda viria a buscar em seus próximos álbuns, que são marcados por uma pegada mais rock do que o hardcore do início da carreira.
O cd começa com o principal hit-single do álbum, a música “No Cigar”. Talvez a mais conhecida do Millencolin, pois ela faz parte do jogo de videogame Tony Hawk Pro Skater 2. A primeira música do disco já mostra uma sonoridade diferente. O som é pesado e rápido, mas é mais rock do que hardcore. Difícil de lembrar os discos anteriores. O que nos faz associar que este é um disco do Millencolin é o vocal inconfundível de Nikola Sarcevic.
“Fox” vem em seguida e é a faixa mais divertida de Pennybridge Pioneers, além de ser um dos melhores videoclipes do grupo também. Ela narra a estória de como Nikola Sarcevic comprou sua Lambreta Scooter, a relação de amor que ele tem pelo veículo, e o quanto ela é invocada e má.
“Material Boy” é uma das poucas que tem uma levada mais hardcore. É uma crítica a sociedade materialista e de consumo, uma crítica bem-humorada e divertida. “Eu comprei um novo Imac e um mouse / um telefone para ir com meu novo espírito / Próxima parada pode ser minha casa: seis camas e uma piscina só pra mim / Eu viverei como um Czar, o “papo” do mendigo não será ouvido / Eu terei um barco, televisão nova e um carro / E em minha boca um grande cigarro cubano”
Logo depois de músicas mais divertidas e com letras mais descontraídas, vem “Duckpond”, com um instrumental mais cadenciado e um refrão pesado. Com letra mais reflexiva, até depressiva em alguns momentos, revelando um desânimo com a rotina, a vontade de deixar algum lugar que se está preso, mas sem ter forças e possibilidades de deixá-lo.
“Right About Now” é outra com uma pegada hardcore. Rápida e direta, com apenas 1m48s, Nikola Sarcevic canta sobre a necessidade amadurecer, ganhar dinheiro, a vontade de viver a vida e atingir os objetivos.
“Penguins and Polarbears” é a sexta faixa do disco e foi o primeiro single do disco, sendo lançado no dia 24 de janeiro, quase um mês antes de o álbum chegar às lojas. Outra faixa que aponta um caminho diferente que a banda estava pretendendo seguir, buscando uma sonoridade mais rock, assim como a próxima faixa, “Hellman”, que alterna momentos mais pesados e outros mais cadenciados.
Na sequência temos duas faixas com o hardcore bem característico do Millencolin, com variações de ritmos, alguns momentos mais rápidos e outros mais lentos. A primeira é “Devil Me”, com letra bem divertida, em que Nikola Sarcevic canta diversas coisas relacionadas à sua vida, o que gosta de fazer, ouvir, esportes preferidos, entre outros. “Stop to Think” começa mais rock, mas no refrão a faixa ganha aquela velocidade do hardcore melódico que marcou os três primeiros do grupo. 
“The Mayfly” é a décima faixa do disco, que começa a chegar ao final. Um bom rock, com ótimos riffs de guitarra, bateria pesada, um bom refrão e um lindo solo de guitarra, um dos poucos do disco.
“Highway Donkey” mantém a variação entre rock e hardcore da faixa “Stop to Think”. Enquanto que a música seguinte, “A-Ten”, é um bela canção sobre a perda de um amor e o quanto a falta da pessoa amada é sentida. Ela é como se fosse um diálogo de Nikola Sarcevic com o ouvinte, como se fosse uma ajuda que os músicos tivessem tentando dar a um fã que possa estar passando por isso. “Esses últimos meses tem sido os mais desagradáveis de sua vida. / Você perdeu alguém que amava. / E não há dor pior que esta. / Você sabe a intimidade que vocês dois tinham. / E a diversão e sentimento que compartilhavam”.
“Pepper” é outro hardcore rápido,de apenas 1m48s, coincidentemente o mesmo tempo de “Right About Now”. Com instrumental divertido, ela prepara o terreno para a última música “The Ballad”, que como o próprio nome diz, é uma balada, com certeza uma das músicas mais ousadas na carreira do grupo e uma das mais belas também. Com início acústico, ela possui uma letra depressiva, que fala sobre um garoto que é o excluído da turma da escola, que está sempre sozinho, “O último escolhido para o jogo de bola. / Ele nunca recebeu um convite. / Não apreciado, é apenas seu primeiro nome. Ele é o "bode expiatório" da classe. / Não há amigos pra alegrá-lo, nem garotas, nem romance doce”. “Você sabe quem é aquele cara? / Que está completamente sozinho. / Você se importa o suficiente pra ver? / Ele está em dor e sofrimento.”
Você se lembra dele? Você era ele? Acredito que muitos fãs se identificaram com essa música quando a ouviram pela primeira vez, no já longínquo ano 2000.
Pennybridge Pioneers é um disco que pode ser considerado como um divisor de águas na carreira do Millencolin. É que determinou os rumos que os músicos seguiriam nos próximos discos, um caminho de distanciamento do hardcore melódico e as misturas com o ska dos três bons primeiros trabalhos da banda. Pennybridge Pioneers é o grande clássico do Millencolin e merece esta tour mundial de comemoração de 10 anos.

As cinco melhores:
1 - The Ballad
2 - No Cigar
3 - Fox
4 - A-Ten
5 - Duckpond

3 comentários:

Thais disse...

Muito bom o show!
Foi ótimo te reencontrar! =)
Beijoss

Anônimo disse...

Eu conhecia algumas músicas da banda, mas não sabia que ela era tão sinistra! Já baixei esse álbum e tô ouvindo!
Abração
João

P.S.: Muito bem escrito!

Guilherme disse...

Aguardando o post do show do Paul McCartney!!! abcs. Guilherme